A arte em forma de saudade!
É feriado de carnaval e
enquanto todos estão se divertindo cada um do seu jeito, eu também tenho a minha
maneira de me divertir.
Aproveitei para ir ver
uma exposição de fotografia que está sendo apresentada no Espaço Itaú Cultural
aqui na capital de São Paulo.
Eu sempre fui uma pessoa apaixonada por fotografia, mas, não sou profissional, apenas gosto de
apreciá-las.
A exposição me chamou a
atenção pelo nome: A arte da Lembrança. Saudade na fotografia brasileira.
Eu não poderia deixar de
ir contemplar essa exposição, justo eu que sou a pessoa mais saudosista do
mundo. Todos os dias tenho saudade de alguma coisa do meu passado, do meu
presente e do meu futuro, pois, o futuro impreterivelmente, um dia será passado!
Logo nas primeiras
fotos, eu fui remetida para algumas lembranças que ainda vivem em mim com muita clareza de quando eu era uma criança na década de 1980, com algumas fotos que
tinham alguns objetos que a maioria das casas naquela época tinham, como por
exemplo, algumas almofadas de tricô. Pelo menos na casa da minha avó e de
alguns tios tinha.
Depois, mais adiante,
outras duas fotos me chamaram a atenção e me tiraram um sorriso de nostalgia pura.
A primeira foto, tinha
um aparelho telefônico que estava sobre uma cama. Só que não era
qualquer aparelho telefônico, era um daqueles que tínhamos que colocar o dedo e
girar os números. Esse telefone não existe mais e eu, usei muito esse aparelho
na adolescência, tenho até uma foto de quando eu era criança com ele.
A segunda foto, era uma
lista telefônica que hoje... bom, hoje, nem preciso dizer o quanto obsoleto
esse objeto ficou.
Eu usei muito a lista
telefônica pra procurar telefones, pois, naquela época não existia
internet para fazermos pesquisas.
Mais adiante, me deparei
com outra foto que foi para mim, a mais marcante de todas.
Era a foto do avião
Zeppelim nos anos de 1930, quando ele pousou no Brasil pela primeira vez em
Recife.
Quando eu vi essa foto,
imediatamente me lembrei da minha avó que sempre me contava a história do
Zeppelim, principalmente, do dia em que ele pegou fogo, em 1937.
Minha avó nunca foi ao
Nordeste, mas, esse avião serviu na primeira guerra mundial e na época foi
muito conhecido.
Acho que ela era tão fã
desse avião, que deu o seu nome, Zeppelim, para uma de suas deliciosas
receitas, que tinha exatamente o formato do Zeppelim.
Eu acho que fiquei
parada em frente a essas três fotos estagnada, ali, lembrando dela (que já não
está mais aqui comigo) uns vinte minutos! Quanta saudade!
A primeira parte dessa
linda exposição me remeteu a um passado que eu vivi, que eu presenciei e foi
muito prazeroso estar ali e relembrar tantas coisas boas da minha vida.
A segunda parte da
exposição, me remeteu a uma passado que eu não vivi, mas, queria muito ter
vivido, apesar de tantos conflitos políticos da época e da dependência da
mulher, o que certamente, nesse aspecto, eu teria sido uma revolucionária, pois, a
minha liberdade e independência eu não troco por nada nem ninguém nesse mundo,
mas, muitos dos valores daquela época eu ainda respeito.
As fotos relatam um
Brasil nas décadas de 50, 60 e são muito nostálgicas, começando pelo próprio
modo de fotografar, como aquelas máquinas lambe-lambe!
Algumas fotos do meu
lindo Rio de Janeiro com aquelas mulheres lindas e
elegantes em seus vestidos chiquérrimos e seus chapéus super charmosos.
Eu sempre gostei muito
da moda retrô, acho super meu estilo!
Nessa segunda parte da exposição,
assim como na primeira, uma foto e uma carta escrita a mão, claro, me
fizeram chorar em plena a exposição.
A exposição reserva uma
parte apenas para fotos de noivas. Eu na verdade, deveria ter pulado essa parte
da exposição, mas, não resisti, foi mais forte do que eu!
As fotos eram lindas,
muito bonitas, mas, foi uma que estava em destaque que me chamou a atenção,
pois, junto com a foto, havia uma carta de uma noiva para seu noivo.
A cada linha, a cada
parágrafo daquela carta, meu coração se despedaçava!
Era uma carta linda de
amor de uma noiva que escrevera para seu noivo que não era de São Paulo, dizendo
que já estava cuidando dos preparativos do casamento e que a saudade que ela
sentia dele era tamanha que não cabia em seu peito. As cartas, naquela época,
eram entregues de navio, por conta disso a saudade era maior.
É nítido o sentimento de
saudade que aquela carta traz para quem a lê.
Naquele instante, eu não pude evitar e meus sentimentos
logo me levaram a lembrar de um poema de Alvaro de Campos (heterônimo de
Fernando Pessoa): Todas as cartas de amor..
Todas as cartas de amor
são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
Eu
também escrevi muitas cartas de amor e me deu muitas saudades dessas cartas de
amor ridículas que eu escrevi!
Foi quando
a exposição terminou e eu vim embora trazendo comigo muitas saudades!
Alexandra Collazo.
16/02/2015