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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Soy un Truhan Soy un Señor (Crônica dedicada ao meu pai: Alejandro Collazo)





Soy un Truhan Soy un Señor

(Crônica dedicada ao meu pai: Alejandro Collazo)

Eu gostaria muito de ter tido uma vida normal, como a vida de quase todo mundo, com uma família tradicional e consolidada, mas, não tive. Aos dois anos de idade, meus pais se separam e minha criação ficou a cargo da minha avó materna da minha mãe.

Eu começo essa crônica falando de perdão! Eu perdoo o meu pai por ter sido tão ausente na minha vida, porque com certeza ele teve os motivos dele para não ter acompanhado meu crescimento e desenvolvimento, bem como, por não estar presente na realização dos meus sonhos e, espero que ele me perdoe também pela minha ausência enquanto filha, por todos os dias em que não o procurei, pois, eu também tive os meus motivos.

Meu pai não era brasileiro, ele era Argentino e pouco falava o português. Meu pai sempre gostou da noite, da boêmia (assim como a filha dele quando mais nova). Como um bom argentino, sempre apreciou um bom vinho. Meu pai se casou três vezes.

Ele era lindo, muito charmoso! Não foi à toa que minha mãe se apaixonou à primeira vista, eu também me apaixonaria por ele.

Eu nasci em 1983 e naquela época, não existia a tecnologia que temos hoje em dia, onde as pessoas conseguem se comunicar com mais facilidade. Nasci em ma década na qual não existia celular, mensagens instantâneas, e-mails, portanto, a comunicação era um pouco escassa.

Eu me lembro quando ele vinha visitar a mim e ao meu irmão quando éramos crianças. Eram raras essas visitas e quando aconteciam, eu nunca aproveitava a companhia dele como deveria. Eu era criança e não entendia nada das coisas da vida.

Desses encontros, eu me lembro que ele sempre nos levava para os melhores restaurantes Argentinos aqui em São Paulo, nas melhores pizzarias e nos melhores bares. Pro meu pai, não importava o valor, importava a qualidade.

Eu tenho vagas lembranças, mas, tem algumas que ficaram gravadas no meu pensamento. Eu me lembro das músicas que ele ouvia no carro quando estávamos juntos. Ele sempre tinha uma fita (daquelas antigas) da Mercedes Sosa e do Júlio Iglesias para ouvir.

De certa forma, ele me influenciou a ouvir e gostar dessas músicas e até hoje eu gosto e ouço. Meu pai tinha um bom gosto musical, um bom gosto para restaurantes, um bom gosto para roupas. O gosto era refinado! Ele gostava do bom e do melhor e viveu assim por toda a sua vida!

Minha mãe sempre me diz que eu sou o meu pai “cuspida e escarrada”, como ela gosta de dizer. Mas eu não sei, pois, não cheguei a conhece-lo a fundo. Não sei quais eram seus sonhos, seus gostos, suas vontades. 

Não sei quase nada do meu pai, só sei que em seu último ano de vida ele foi para mim, o melhor pai do mundo!
Meus pais reataram o casamento em 2008, quando meu pai retornou da Argentina de uma viagem longa que havia feito.

Nos primeiros meses, eu achei estranho ter a presença dele, mas, depois essa convivência se tornou a melhor de todas.

Meu pai era um exímio cozinheiro, ele fazia todos os pratos que eu mais gostava, dos mais gordurosos aos mais leves. Eu adorava a comida dele. Ele sempre arrumava a mesa como se fosse para um jantar de gala e eu acostumei com isso e até hoje eu gosto de arrumar a mesa decentemente.

Me lembro que todos os dias antes de eu sair para o trabalho, meu pai acordava comigo e descia para fazer meu café, ele sabia o quanto eu gosto de tomar café da manhã e sempre dizia: “Coma filha, o café da manhã é a melhor refeição do dia”!  Ele sempre escolhia as minhas xícaras preferidas para eu tomar meu café!

Me lembro também, que muitas vezes eu estava com vontade de comer brigadeiro e então, eu ligava para ele e pedia para ele fazer e quando eu chegava em casa, lá estava o meu prato de brigadeiro. Infelizmente, eu não aprendi muitas receitas com ele, porque eu quase não ficava em casa, mas, algumas coisas eu aprendi e faço até hoje.

Ele foi um pai muito carinhoso e atencioso todo o tempo em que esteve comigo. Me lembro de um episódio (quase um dos últimos porque ele já estava doente nesse dia), em que fomos ao supermercado juntos e minha sandália quebrou. Ele então tirou o sapato dele e me deu. Fomos ambos para casa descalços com um par de sapato cada um.

Em Dezembro de 2008, meu pai foi diagnosticado com câncer de pâncreas. Esse câncer é fatal! Eu sabia que meu pai não viveria muito tempo, pois, perdi minha avó materna para esse mesmo tipo de câncer. Depois que ela foi diagnosticada, viveu apenas 03 meses. Porque com meu pai seria diferente?

Mas foi, pois, ele aguentou mais um ano e em Novembro de 2009, infelizmente veio a óbito! 

Meu pai tinha apenas 60 anos de idade, mas, 60 anos muito bem vividos, muito bem aproveitados. Meu pai soube viver a vida, soube aproveitar cada minuto e cada segundo dessa vida ingrata que nós levamos.

Eu não sei quantos “eu te amo” eu disse ao meu pai, bem na verdade, eu não sei muito bem se alguma vez eu disse que eu o amava, talvez quando ele estivesse no hospital, ou, quando ele estava no caixão, é sempre assim... É a vida!

Mas, eu guardo no meu coração esse último ano que passamos juntos. Ele foi o melhor pai do mundo para mim e sempre estará no meu coração. 

Tem uma música do Júlio Iglesias que o define muito bem e sempre que eu a ouço, me lembro dele. A música se chama: Soy un truhan soy un señor, que diz:

Confieso que a veces soy cuerdo y a veces loco
Y amo así la vida y tomo de todo un poco
Me gustan las mujeres, me gusta el vino
Y si tengo que olvidarlas, bebo y olvido

Mujeres en mi vida hubo que me quisieron
Pero he de confesar que otras también me hirieron
Pero de cada momento que yo he vivido
Saqué sin perjudicar el mejor partido

Y es que yo
Amo la vida y amo el amor
Soy un truhán, soy un Señor
Algo bohemio y soñador

Y es que yo
Amo la vida y amo el amor
Soy un truhán, soy un Señor
Y casi fiel en el amor

Confieso que a veces soy cuerdo y a veces loco
Y amo así la vida y tomo de todo un poco
Me gustan las mujeres, me gusta el vino
Y si tengo que olvidarlas, bebo y olvido

Me gustan las mujeres, me gusta el vino
Y si tengo que olvidarlas, bebo y olvido

Y es que yo
Amo la vida y amo el amor
Soy un truhán, soy un Señor
Algo bohemio y soñador

Júlio Iglesias

Meu pai deixou 07 filhos, quatro são Argentinos. Exceto o meu irmão do casamento da minha mãe e do meu pai, conheço apenas 03 deles, mas, um dia sei que estaremos todos juntos em uma casa de Tango em Buenos Aires brindando a vida e sei que neste momento, ele estará lá conosco, brindando a vida com um bom vinho, como ele gostava de fazer.

Há, eu não disse, mas, meu pai também era um exímio dançarino!

Te amo, pai! De onde estiver saiba que me faz muita falta!

De sua filha;
Alexandra Collazo!