Translate

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

A arte em forma de saudade!



A arte em forma de saudade!

É feriado de carnaval e enquanto todos estão se divertindo cada um do seu jeito, eu também tenho a minha maneira de me divertir.

Aproveitei para ir ver uma exposição de fotografia que está sendo apresentada no Espaço Itaú Cultural aqui na capital de São Paulo.

Eu sempre fui uma pessoa apaixonada por fotografia, mas, não sou profissional, apenas gosto de apreciá-las.

A exposição me chamou a atenção pelo nome: A arte da Lembrança. Saudade na fotografia brasileira.

Eu não poderia deixar de ir contemplar essa exposição, justo eu que sou a pessoa mais saudosista do mundo. Todos os dias tenho saudade de alguma coisa do meu passado, do meu presente e do meu futuro, pois, o futuro impreterivelmente, um dia será passado!

Logo nas primeiras fotos, eu fui remetida para algumas lembranças que ainda vivem em mim com muita clareza de quando eu era uma criança na década de 1980, com algumas fotos que tinham alguns objetos que a maioria das casas naquela época tinham, como por exemplo, algumas almofadas de tricô. Pelo menos na casa da minha avó e de alguns tios tinha.

Depois, mais adiante, outras duas fotos me chamaram a atenção e me tiraram um sorriso de nostalgia pura.

A primeira foto, tinha um aparelho telefônico que estava sobre uma cama. Só que não era qualquer aparelho telefônico, era um daqueles que tínhamos que colocar o dedo e girar os números. Esse telefone não existe mais e eu, usei muito esse aparelho na adolescência, tenho até uma foto de quando eu era criança com ele.

A segunda foto, era uma lista telefônica que hoje... bom, hoje, nem preciso dizer o quanto obsoleto esse objeto ficou.

Eu usei muito a lista telefônica pra procurar telefones, pois, naquela época não existia internet para fazermos pesquisas.

Mais adiante, me deparei com outra foto que foi para mim, a mais marcante de todas.

Era a foto do avião Zeppelim nos anos de 1930, quando ele pousou no Brasil pela primeira vez em Recife.

Quando eu vi essa foto, imediatamente me lembrei da minha avó que sempre me contava a história do Zeppelim, principalmente, do dia em que ele pegou fogo, em 1937.

Minha avó nunca foi ao Nordeste, mas, esse avião serviu na primeira guerra mundial e na época foi muito conhecido.

Acho que ela era tão fã desse avião, que deu o seu nome, Zeppelim, para uma de suas deliciosas receitas, que tinha exatamente o formato do Zeppelim.

Eu acho que fiquei parada em frente a essas três fotos estagnada, ali, lembrando dela (que já não está mais aqui comigo) uns vinte minutos! Quanta saudade!

A primeira parte dessa linda exposição me remeteu a um passado que eu vivi, que eu presenciei e foi muito prazeroso estar ali e relembrar tantas coisas boas da minha vida.

A segunda parte da exposição, me remeteu a uma passado que eu não vivi, mas, queria muito ter vivido, apesar de tantos conflitos políticos da época e da dependência da mulher, o que certamente, nesse aspecto, eu teria sido uma revolucionária, pois, a minha liberdade e independência eu não troco por nada nem ninguém nesse mundo, mas, muitos dos valores daquela época eu ainda respeito.

As fotos relatam um Brasil nas décadas de 50, 60 e são muito nostálgicas, começando pelo próprio modo de fotografar, como aquelas máquinas lambe-lambe!

Algumas fotos do meu lindo Rio de Janeiro com aquelas mulheres lindas e elegantes em seus vestidos chiquérrimos e seus chapéus super charmosos.

Eu sempre gostei muito da moda retrô, acho super meu estilo! 

Nessa segunda parte da exposição, assim como na primeira, uma foto e uma carta escrita a mão, claro, me fizeram chorar em plena a exposição.

A exposição reserva uma parte apenas para fotos de noivas. Eu na verdade, deveria ter pulado essa parte da exposição, mas, não resisti, foi mais forte do que eu!

As fotos eram lindas, muito bonitas, mas, foi uma que estava em destaque que me chamou a atenção, pois, junto com a foto, havia uma carta de uma noiva para seu noivo. 

A cada linha, a cada parágrafo daquela carta, meu coração se despedaçava!

Era uma carta linda de amor de uma noiva que escrevera para seu noivo que não era de São Paulo, dizendo que já estava cuidando dos preparativos do casamento e que a saudade que ela sentia dele era tamanha que não cabia em seu peito. As cartas, naquela época, eram entregues de navio, por conta disso a saudade era maior.

É nítido o sentimento de saudade que aquela carta traz para quem a lê. 

Naquele instante, eu não pude evitar e meus sentimentos logo me levaram a lembrar de um poema de Alvaro de Campos (heterônimo de Fernando Pessoa): Todas as cartas de amor..

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,

Como as outras,

Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,

Têm de ser

Ridículas.

Mas, afinal,

Só as criaturas que nunca escreveram

Cartas de amor

É que são

Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia

Sem dar por isso

Cartas de amor

Ridículas.

A verdade é que hoje

As minhas memórias

Dessas cartas de amor

É que são

Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,

Como os sentimentos esdrúxulos,

São naturalmente

Ridículas.)

Eu também escrevi muitas cartas de amor e me deu muitas saudades dessas cartas de amor ridículas que eu escrevi!

Foi quando a exposição terminou e eu vim embora trazendo comigo muitas saudades!

Alexandra Collazo.

16/02/2015

 

2 comentários:

  1. Olá Alexandra, boa tarde!

    Linda crônica e torna-se notável a sua evolução. Vejo mais claramente elementos de reflexão agora em sua prosa nas crônicas, o que a torna relevante. Embora a crônica seja um recorte no tempo, através dela podemos dizer muito. E como sempre: menos é mais, no campo das letras. Fico feliz por você e por ter de alguma forma contribuído com esse processo. E ah, nunca mate sua voz narrativa, ela será sua identidade no firmamento das letras, e o seu jeito de escrever que sempre tem uma levada poética nos termas e nas palavras escolhidas é a sua identidade, não largue isso. Aprimore ela, ler sempre os clássicos é fundamental. De passo em passo, vai se melhorando nos temas e palavras de cada crônica. E torna-se único esse rito, quando de ser conta, já terá um livro de contos, e quero estar lá na primeira fila, para lhe parabenizar e ter meu livro autografado!

    Com carinho, sempre, teu: Marcelo Caldas.

    ResponderExcluir
  2. Obrigada, Marcelo Caldas!

    É sempre bom termos alguém que nos dê a real, que nos dê as criticas que precisamos!

    E vamos aos clássicos!

    Beijos!

    ResponderExcluir